terça-feira, 19 de janeiro de 2010

POESIA COMENTADA










DESAFLITO 

A solidão é um transplante
de um peito de carne
para um peito de aço.
É a sétima arte equivocada
com a película da face
(endurecida).
A solidão é portadora de equívocos
É um corte ao norte do meu sonho.
E à leste dos meus planos e perspectivas. 



NOSSA SENHORA DA NEUROGLIA

O homem, hoje,
já não dorme sem
o lexotan.
Neuróglios meus
de todos os dias
protejam minha
imunologia.  


Mônica Banderas

=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=



Eu já estava há algum tempo para homenagear Mônica Banderas. E nenhum dia é melhor do que hoje, quando ela acaba de passar no vestibular para Pedagogia da UniRio. Então, junto com meus parabéns (duplos, porque ela está fazendo um brilhante trabalho no Blog de Blocos, criando um estilo diferente, transformando um diário de registros introspectivos em diário de informações, notícias e literatura), estou postando dois poemas que eu gosto muito, do seu livro It (Blocos, 1977).
Os dois falam de solidão, de formas diversas: enquanto no primeiro a solidão é calma, reflexiva e triste, no segundo ela beira a patologia, cujos remédios podem ser mais prejudiciais do que o próprio distúrbio — afinal, como já disse Freud, ser saudável é saber administrar nossa neurose diária. Nos dois há a  inconfundível marca registrada de Mônica, a partir do título: Desaflito, um neologismo que logo associamos à fase posterior ao climax da angústia da separação; N. S. da Neuroglia, uma espécie de profanação do ritual da própria solidão humana, invadida e "curada" à força e à base de drogas e psicotrópicos, mesmo às custas de baixar-se a resistência ao sofrimento.

Foi muito difícil escolher apenas dois poemas, pois tenho um carinho muito grande por todos os que postei em Blocos. Então, minha sugestão é no sentido de que você conheça um pouco mais da obra desta poeta e artista plástica, de um lirismo que sempre nos surpreende pela sua originalidade, força e irreverência.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Estreou hoje meu blog no Yubliss, a convite de Chico Abelha

Desde novembro do ano passado que minha amiga Mônica Banderas me apresentou ao Yubliss. Logo de imediato achei simpático o layout e gostei da chamada principal: "Avalie sua vida através de mitos modernos e histórias" — afinal, esta é a praia de todo scritor (ou deveria ser). Tive certos problemas com o envio de textos a princípio, no entanto, também de imediato, o responsável pela rede, Chico Abelha, ajudou a pulverizar as dificuldades. Aliás, este fator diferencial já me motivou muito: um bom moderador, alguém de carne e osso  para nos receber, tirar nossas dúvidas, ajudar nas postagens, conversar conosco, nos ambientar, um bom moderador — repito —  dá nova dimensão a  uma rede social. Eu acho. De repente, ignorei minha pouca disponibilidade de tempo, e aceitei fazer um fórum sobre a profissão do escritor, durante alguns dias. A partir dele, me entrosei melhor, conheci mais as pessoas, e, por fim, me senti em casa.
Hoje, estreou "Além das Letras", meu blog dentro do Yubliss, e mais uma vez comprovo a simpatia e a generosidade da equipe: ninguém precisa cadastrar-se para participar dos blogs. Sinto-me extremamente contente. "— Mas, por quê?, afinal você já tem um blog, então não é nem o caso de vivenciar uma experiência nova ou inédita"... Engano. É sim, uma experiência nova e inédita para mim: uma coisa é você ter um blog através de uma rede social cujo única intenção é  aproximar pessoas, outra é ser convidada a ter um blog dentro de um contexto que você admira, e que, de certa forma, já faz parte da sua vida há vários anos: quer em minha literatura ou em minha vida, há um bom tempo questiono paradigmas, parâmetros e modelos absolutos, buscando trilhar o caminho do equilíbrio, do prazer, da satisfação e da plenitude pessoal/profissional, contribuindo, também com minha alegria, para a melhora da saúde do planeta. Resumindo: tem horas que escrever me é  muitíssimo gratificante, como agora. Estou feliz. Estou em Bliss...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Algumas tradições do bolo dos reis



Sou lactovegetariana e, no orkut, minha comunidade de comida naturalista, de todas as que eu tenho, é a mais numerosa (seguida de perto pela Profissionalização do Escritor). Acho muito bom esse crescente entusiasmo e interesse por uma vida mais saudável e com menos sacrifício de animais. Então, homenageando o Dia dos Reis, deixo a dica da minha página, que traz  um histórico do bolo dos reis, uma receita tradicional
, e mais três em que entram os frutos secos, simbolizando as pedrarias da coroa dos Reis Magos.  Se você gosta de  doce, mesmo não sendo vegetariano, ou de histórias, clique aqui para ir ao link do meu siteE boas romãs para todos, embora até hoje eu não entenda o que Persófone tem a ver com os Reis Magos. Alguém poderia me explicar?

sábado, 2 de janeiro de 2010

MEU ANIVERSÁRIO




MOTO PERPÉTUO

A primeiro de janeiro apareci,
mas a bem da verdade só nasci
bem depois do meu aniversário.
Assim mesmo, afirmar isso é temerário,
pois até hoje meu espírito se sente
ainda em nascimento permanente.

          
 Leila Míccolis

É muito bom começar o ano assim, embora fazer aniversário em 1º de janeiro, no Dia da Confraternização Universal é meio complicado, porque em geral os amigos, cansadíssimos pelas comemorações do reveillon, acabam sem ânimo de comparecer a mais confraternizações no dia seguinte. Há alguns anos, porém, minhas festas têm sido repletas e muito animadas, com o carinho virtual  de muita gente que festeja comigo o dia primeiro. Hoje, passei o dia inteirinho agradecendo a cerca de 250 amigos que vieram manifestar seu carinho através de dos meus dois perfis no orkut — gente de todos os estados brasileiros, e até alguns de outros países. Uma reunião que só a Internet possibilita. Fico comovida, é uma sensação incrívelmente maravilhosa, inenarrável. Obrigada a todos que se lembraram de mim, à vida, responsável por colocar cada um de vocês em meu caminho, e à Lua Azul, fenômeno que neste ano de 2010 acrescentou ainda mais magia à data, prenunciando um ano mais alegre e melhor para todos, inclusive para o planeta. O calendário Seicho-No-Ie, que ganhei de presente de Leninha, sugere: "O primeiro dia do ano é o primeiro passo a ser comemorado. Hoje a partir deste momento, vamos avançar alegremente". É justo o que pretendo fazer, junto com todos vocês. Feliz ano todo a todos,
Leila 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

POESIA COMENTADA




BRINDE

ano novo: vida
nova
dívidas novas
dúvidas novas


ab ovo outra
vez: do revés
ao talvez (ou
ao tanto faz como fez)


hora zero: soma
do velho?
idade do novo?
o nada: um ovo


salve(-se) o ano novo!


José Paulo Paes
(SP, 22/7/1926 - 8/10/1998)



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Paulo Paes é um dos meus poetas preferidos, por isto resolvi acabar o ano de 2009 e começar o de 2010 com este poema, do livro “Poesia Reunida” (Brasiliense, 1986, SP), porque, além dele nos proporcionar um brinde literalmente efervescente e borbulhante, ainda nos oferta, de brinde, o que o poeta tem de melhor: sua ironia finíssima, sua crítica ferrenha aos hábitos e aos costumes enferrujados e empedernidos, seu senso de observação incomuníssimo... Ele é tão hábil e lúdico, que consegue colocar uma expressão latina ou sugerir referenciais eruditos, como o ovo primordial, de modo a que o leitor não precise quebrar a cabeça para entender a brincadeira do jogo de sons e sentidos, que se multiplicam a cada palavra, para  por fim nos surpreender com uma frase simples, desdobrável em diversos significados: salve o ano novo, salve-se o ano novo, salve-se do ano novo, ou:  o ano novo... salve!  


domingo, 20 de dezembro de 2009

POESIA COMENTADA









Natal se aproxima e escolhi para a ocasião dois poemas de Leninha, que tem se dedicado, principalmente, a poemas visuais. Gosto muito deste tipo de poesia, porque é quando a imagem - e não a palavra - nos permite associações mais livres e, de repente, surpresas diante de nossas próprias interpretações. 




 

Não vou comentar os poemas visuais em si, não cairei nesta armadilha, mas não consigo deixar de ressaltar os dois tipos de felicidade tão contrastantes nas  duas árvores: a humana, restrita à ironia do "basicamente", do mínimo indispensável para a sobrevivência. Parca. E a segunda, em harmonia com seu meio ambiente,  generosa, exuberante e plena. Farta.



terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Leila no Twitter e... Habitue seu cão a ouvir poesia




Aderi ao Twitter. Quem quiser saber as minhas novidades, mais rapidamente clique no passarinho-logo, ao lado. Blocos também está no lá: http://twitter.com/blocosonline
Não sou das mais fanáticas, inclusive relutei bastante, porque as pessoas transformaram o Twitter em um diário: meu saiu e ainda não voltou... Ou: eu estou usando uma camisa azul hoje... Ou: hoje não vi televisão.. Não gosto nem um pouco desses exercícios de egocêntricos, como se o mundo girasse apenas em torno de uma pessoa e de seus sentimentos (superficiais, devido ao tamanho do comentário). Parece diário de preguiçoso. Compreendi porém, que, para informações rápidas, notícias coletivas, o Twitter funciona bem.

E uma das notícias que eu divulguei no Twitter é que acaba de sair o livro organizado por Ulisses Tavares, "Poemas que latem ao coração", com diversos autores, inclusive eu. No release do lançamento ocorrido  dia dia 28/11, havia um convite diferente: "peça ao seu cachorro para levar você". E eu complemento agora: adquira pela Editora Nova Alexandria e habitue seu cãozinho a ouvir poesia. Tenho certeza de que ele vai agradecer por você passar mais tempo com ele, fazendo-lhe este carinho. São versos e fotos de vários tipos de cachorros, para todos os gostos. Meu poema é dedicado ao nosso cão mais antigo da casa: o Leandro, vulgo Ouou. Espero que gostem e que comentem comigo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

POESIA COMENTADA

TELEGRAMA Mamãe morreu
Ficamos
Envergonhados CHUVAS Algumas pessoas morreram num dia rude de dezembro depois das chuvas Pela televisão as imagens da cidade afogada Algumas pessoas morreram fazendo os gestos estranhos dos que pedem socorro Eunice Arruda =-=-=-=-=-=-=-= Conheci a poesia de Eunice em 1978, quando Geir Campos me indicou-a para integrar a antologia que organizei sob o título “Mulheres da Vida” (Ed. Vertentes/SP, do jornalista Wladyr Nader). O impacto de sua lírica nada convencional me mobilizou, de imediato. Eunice tem haicais belíssimos, muitos deles constantes da obra "Natureza - Berço do Haicai - Kigologia e Antologia", organizada por H. Masuda Goga e Teruko Oda (1996). Porém preferi postar dois poemas que enfocam a morte de maneira rara, e que sempre me tocam profundamente quando os releio. O primeiro (Telegrama) foi publicado pela nossa Editora Blocos, no livro À Beira (1999). Em pouquíssimas palavras, o poema estampa a morte como se fosse um ato culposo e indecente, diante da qual as pessoas devem envergonhar-se. Com minha mania de telenovelista, fico me perguntando quem era essa mulher morta (cuja única "falha" em sua vida perfeita talvez tenha sido esta) e quem são seus filhos, que praticamente pedem desculpas por ela ter "fraquejado" e morrido... Esta relação familiar é repleta de conflitos, preciosa, e enseja múltiplas interpretações. O segundo poema, "Chuvas", foi publicado em nosso portal na Saciedade dos Poetas Vivos nº 2 , e nele, novamente, vemos Eunice utilizar-se de uma intensa ironia poética trágica, de uma crítica ferina ampla, envolvendo o desamparo da população, o estado de calamidade pública vivida diariamente pelos cidadãos, o desinteresse dos políticos, e, principalmente, a exploração televisiva das tragédias (filma-se, em vez de ajudar-se), gerando um alheamento, como se o desespero visto/assistido à distância fosse apenas uma simulação, mera "verossimilhança" com a realidade, pequeno detalhe de um espetáculo, cuja semelhança com a vida pode passar desapercebida.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Sumiço, vídeos e novidades












Fiquei um tempinho sem aparecer por aqui, porque tive que priorizar meu exame de qualificação ao Doutorado na UFRJ. Vencido mais este penúltimo degrau, agora "só" falta escrever as 150 páginas da minha tese e defendê-la, no ano que vem.
A segunda notícia é que sou uma das juradas do 1º Festival de FACOPP (categoria vídeos) e acho que vale a pena vocês darem uma olhada, porque há produções interessantíssimas, confiram. O endereço é: http://facopp.ning.com/video/video Deixei comentário para todos os vídeos, assistam e comentem também.
E, já que a organização do evento criou uma página para mim, aderi ao ning e estou com uma nova página lá: http://escritoraleilamiccolis.ning.com
além de um novo grupo: Calçada da fama - Artistas da palavra e outros artistas: http://escritoraleilamiccolis.ning.com/group/calcadadafama
Por fim, Selmo Vasconcellos teve a gentileza de me entrevistar, e quem quiser conhecer-me um pouco mais basta clicar no link: http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com/2009/10/momento-litero-cultural-entrevista-com_25.html Aguardo vocês lá também.

sábado, 17 de outubro de 2009

Boicotes e estrelismos

Uma das coisas que mais me impressiona na Internet é o pedido de divulgação de algum evento (lançamento de livro, debate, etc.) enviado através de gif, jpeg ou pdf - ou seja: como imagem. Não é preciso ter grandes conhecimentos tecnológicos para sabermos que não dá para copiar um texto que aparece em uma imagem e que uma imagem pesa muito mais do que um texto. Cansei de solicitar para que me enviem somente textos. Atualmente, se já pedi uma vez, não peço mais, deleto e fico pensando em como as pessoas se auto-boicotam consciente ou inconscientemente, pedindo para enviar uma informação que não pode ser "copiada e colada". Ou então, descortesia literalmente grande, ler e-mails autopromoicionais com mais de 1.000 kbytes, em nossos endereços de e-mails, mesmo sabendo que só há tempo de lermos as mensagens de um único provedor diariamente.
Também me deixa perplexa a atitude de alguns autores que mencionam "escritor" como sua profissão. Um escritor é um escritor, lógico. Porém não necessariamente um profissional: nunca vi, por exemplo, alguém exercer uma profissão apenas nas horas vagas... Algum médico medica ou advogado advoga quando quer, de vez em quando, como um passatempo em seu tempo livre? Alguém já se aposentou pelo como escritor? Como se pode falar de uma profissão que não é legalizada, que não tem consciência de classe — pois nem classe é —, que não possui cursos de especialização, cuja lei autoral raramente é cumprida, e cuja grande maioria dos autores ainda acha que literatura (poesia ou prosa) não se aprende na escola? Sem uma ação sócio-política maciça não há profissão, profissionais, profissionalismo ou profissionalização. Então fica-se apenas a escrever textos, e, na maioria dos casos, a imaginarmos que temos a literatura por profissão, sempre que isto for conveniente à nossa autoestima.

Leila Míccolis

VI Encontro Nacional do Mulherio das Letras - Rio de Janeiro

VI Encontro Nacional do Mulherio das Letras. Participação especial entre as Mulherageadas: Rui de Habeurim de 18 a 22 de Outubro...