De tanto zapear
minha vida já não sabe
em que canal está.
Linkagem do meu envolvimento com coisas, animais e pessoas ao imenso frame hipertextual do mundo.
Caminhamos por roteiros, por rotas de palavras, por passos
que avançam sempre em múltiplas direções: cada ato nosso é feito de diversos
textos, intenções, finalidades. Como na vida, um curso de roteiro de novela de
televisão não serve apenas para este fim. Desenvolve as faculdades
imaginativas, considera o processo criativo como um artefato, sujeito a uma
carpintaria (estruturação orgânica do constructo ficcional), facilita a
organização e ordenação do pensamento, fornece técnicas e práticas de uma nova
experiência na área das Letras, aprimora a linguagem escrita, a comunicação, a
observação, a percepção, a sensibilidade e amplia horizontes. A humanidade
narra-se desde os tempos das cavernas, por desenhos e mímica — a fala foi um
incrível avanço, e até hoje aprendemos
com ela.
O dia em que uma sociedade não tiver mais histórias para
contar está condenada ao desaparecimento.
ALGUMAS FRASES SOBRE O OFÍCIO DE ESCREVER
“O nível imaginário (…) é apenas a ponta do iceberg do ser
humano.” – Lacan
“Viver é lutar com demônio nos recônditos do coração e da
mente. Escrever é participar do nosso próprio julgamento.” – Ibsen
“Dê-me três linhas escritas por um homem e terei motivo para
enforcá-lo.” – Richelieu
“Com outras coisas ninguém se envergonha de ganhar
dinheiro. É como se, confessar-se
trabalhador cultural, fosse confessar-se automaticamente vagabundo…” (…) Não me peça para dar de graça a única
coisa que tenho para vender.” – Cacilda Becker
“A dramaturgia começa com a história da Humanidade.” – Doc
Comparato
“Os três elementos mais importantes para se fazer um filme
são um bom roteiro, um bom roteiro e um bom roteiro.” – Alfred Hitchcock
METODOLOGIA DO CURSO:
O curso é constituído por 15 apostilas com dez exercícios
cada uma.
MODALIDADES:
ou em duas etapas, comprando a apostila e quando acabar de ler e fazer os exercícios passar para o treinamento prático com a correção dos mesmos, por e-mail;
ou em uma única etapa, com prática e teoria simultâneas (e-mail para você não ter obrigação de dias e horários rígidos – se tiver tempo disponível as aulas podem ser diárias, embora o prazo para concluir o curso seja de quatro meses;
Caso você se interesse e queira mais informações (sem
compromisso) do valor do investimento e do conteúdo integral do curso,
contacte-me através do e-mail:
blocos@blocosonline.com.br
Mesa de debate sobre Poesia Marginal em comemoração ao Dia
Nacional da Poesia, em 14 de março de 2014, Natal/RN, promoção da Fundação José
Augusto. Na mesa, da esquerda para a direita: Eduardo Alexandre, Clara de Goes,
Plínio Sanderson, Aluízio Mathias (coordenador), João Batista de Morais Neto
(João da Rua) e eu.
Tive o prazer de conhecer o livro Fábulas para adulto perder
o sono, quando participei do júri do Concurso Nacional de Literatura Cidade de
Belo Horizonte, este ano. Como o título sugere, trata-se de uma poesia
provocativa, inquieta, muitas vezes incômoda e cruel, como a realidade
cotidiana. Fiquei muito impressionada com a ousadia da autora (pelo menos o
pseudônimo sugeria ser voz de mulher, embora nem sempre isto seja comprado ao
final, já que muitos autores colocam o nome da filha ou da esposa no pseudônimo),
que não se intimidava com desfechos violentos, sendo capaz de levar até as suas
últimas consequências o desenvolvimento de sua ideia:
Os Três Porquinhos
Decepcionados com
Um mundo onde
Ou você come
Ou é comido
Os três porquinhos
Deliberaram
Sair da pocilga
À noite
Entraram na casa
E assaram os donos:
As maçãs nas bocas.
Após o julgamento, quando pude conhecer a identificação dos concorrentes, vi que se tratava realmente de uma mulher: Adriane Garcia.
Desde seu livro, eu poderia transcrever inúmeros outros poemas que me fascina(ra)m, como Romeu e Julieta, Pinóquio, Branca envelhece na neve, Diamante, E o rato roeu a roupa…, Bela Acordada, e tantos outros textos de uma poesia que traz para a pós-modernidade fábulas e mitos transmitidos de geração a geração, transpondo-os para os tempos atuais, com aguçado senso crítico. O conjunto da obra, muito bem urdido, lembrou-me os sangrentos e macabros contos infantis originais medievais, antes de serem adaptados por Andersen e os irmãos Grimm que lhes adocicaram e lhes deram finais felizes, segundo o historiador cultural Darnton. Uma obra bem dentro da volta do trágico nas sociedades contemporâneas. Porém, para não me estender demais, transcrevo apenas mais um poema incrível, que fala das potencialidades pessoais que todos temos e que tantas vezes usamos inabilmente, desastrosa e desastradamente…
Desastrada
Tenho uma varinha do condão
e uma marca de nascença num braço:
Quero e acontece.
Só eu percebo magia
Enquanto sorvo a sopa.
Meu feitiço é lento:
Às vezes, contra a feiticeira
Sempre, tarde demais.
Para minha alegria, este livro acaba de ganhar a Segunda
Edição do Prêmio Paraná de Literatura, na categoria poesia, e eu aplaudo,
porque Adriane Garcia é uma das grandes revelações para mim neste ano de 2013.
Quem quiser conhecer mais a obra dessa mineira, ela está no Facebook, quase
diariamente postando seus versos, tantas vezes desconcertantes, desnorteantes,
e escandalosamente belos.
Há muito disso: vitrines sem conteúdo, armazéns de frases feitas. Porém até nestas dá para encontrar certa graça, se nos propomos a questioná-las. Outro dia, alguém postou algo do gênero: não seja o sol que brilha, mas o vagalume que ilumina. Comentário meu: “acho que devemos ser os dois, sol de dia e vagalume à noite, porque os brilhos são diferentes”. E pensei: já imaginou só vagalumes de dia? Ia ser muito escuro, igual à noite. (Amo o sol...).
Há também gatófilos e cachorrófilos como eu, então me sinto em casa e tão à vontade que me animei a fazer dois álbuns de fotos: Afetos múltiplos e Eventos inesquecíveis: estes últimos com encontros marcantes, em geral com poetas – tem até Cora Coralina lá: conheci-a em 1982, quando fui a coordenadora do setor de Literatura do Rio no 1º Festival de Mulheres nas Artes (Teatro Ruth Scobar/SP). Aliás, depois que coloquei Coralina, muito mais gente me encontrou no Face. Chamo este fenômeno de brilho por osmose: se você é amigo de quem conhece algum nome famoso, parece que você passa a estar mais perto dessa celebridade. As pessoas “se sentem”. Sentem-se importantes também.
Alguém há de me perguntar: e por quê você quis aparecer ao lado de
Coralina: não foi pelo mesmo motivo? Não, o meu foi afetivo, o partilhamento de
um momento de grande emoção. Quando vi aquela senhora tão velhinha entrar no
Festival (nem sabíamos se ela iria, pois não tinha confirmado a presença)
fiquei encantada: ela parecia tão doce quanto os doces que fazia. Caminhava com
dificuldades, ajudada por duas amigas. Dei para ela autografar o catálogo do
evento, e ela perguntou-me intrigada, sem nem me olhar: - “Você não comprou meu
livro?”. Presenteei-lhe com a verdade: “não tenho dinheiro no momento, Cora”.
Então ela levantou os olhos muito límpidos, me viu – este instante foi incrível
– sorriu para mim (que gracinha!) e disse, como quem faz uma travessura
inocente e nova: – “Sabe?, eu nunca autografei um catálogo”... e ficamos
conversando um pouco – a fila de autógrafos era enorme – sobre a “dor e a
delícia” de gostarmos de fazer poesia. Depois, ela sugeriu que eu ficasse por
ali, perto dela (como se eu pudesse sair... eu estava em estado de transe
hipnótico), e de vez em quando, entre uma e outra dedicatória, trocávamos
algumas frases, eu e Coralinda.
Falei no início em vitrine mas, em meio a
tantas mensagens, observo que a visibilidade pessoal esperada e tão alardeada é
um tanto relativa: há que sermos garimpeiros ou entrarmos no Face com o espírito de “caça ao tesouro”
("sem lenço e sem documento", leia-se, sem mapa com pistas); porém, esperta
que sou, já sei onde encontrar meus ouros: tenho tido muito prazer em acompanhar
as inteligentes postagens do Chico (chequei até a compartilhar uma música
através dele), da Ivana, do Zeballos, da Márcia Sanchez, da Leninha, do Braulio
Tavares, do Affonso Romano, do Henrique Cairus, da prata da casa – Urhacy Faustino e
Mônica Banderas – entre vários outros. Isso me faz pensar no óbvio: o ser
humano estraga ou enriquece as redes sociais de que participa. Simples assim.
Serres mostra que todo animal, pela urina, pelo excremento,
pelo sangue e pelo esperma – conforme o caso
– apropria-se de um local, terreno ou
território (que pode ser a territorialidade de um país ou de um corpo). Os
cães, os javalis e os gatos urinam para marcar sua passagem; as tribos
antropófagas, ao devorarem o inimigo, apossavam-se das qualidades dele – só os
guerreiros considerados heróis eram merecedores de tal honraria; nos rituais de
sacrifício religioso (ainda hoje) e nas guerras (tradicionais), a terra onde o
sacrificado ou o inimigo tomba torna-se sagrada para o vencedor, “legitima-o em
sua posse”.
Sujar, no sentido de macular, de marcar presença, pertence
ao animal – ao animal que também somos: “a sujeira e a limpeza delimitam
a propriedade”. Por
exemplo: em um hotel (ou motel), após a saída de um hóspede, o próximo a se
instalar exige roupas de cama limpas, para que possa apropriar-se e imprimir
suas marcas, quaisquer que sejam, mesmo que seja apenas um simples amarfanhado
nos lençóis; ninguém se enxuga, também, nas toalhas de outro, ou senta-se em
vaso sanitário que não tenha o aviso de que foi higienizado. Não que o escritor
preconize uma sociedade ascética – o excesso de limpeza é tão nocivo quanto o
seu contrário; não, a direção que ele segue é outra – ao final exporei a
proposta dele.
Serres tem o cuidado de observar a “Modernidade Líquida”
(outro livro incrível, do sociólogo Zygmunt Bauman), analisando a poluição suave
– ou seja, sutil – que mal percebemos de tanto que ela já está impregnada
em nosso cotidiano: a poluição da marca e da propaganda – imagem e som – que atravessa nosso caminho e entra pela nossa
casa. É belíssimo quando ele escreve que os outdoors
roubam-nos a paisagem e que o barulho de uma televisão ligada apropria-se da
convivência/fala entre as pessoas em um determinado local e até da intimidade
do silêncio. “Os
poluidores sujam o mundo para dele se apropriar”.
Trata-se de uma expansão desterritorializada, globalizada, sem fronteiras,
apropriação que nos faz ter “um
subjetivo tão poluído quanto o coletivo e o objetivo”.
O pensador francês diversifica e amplia o conceito de lixo
para inúmeras áreas, e em certo momento chega à indústria automobilística,
refletindo sobre suas estratégias e ciladas – tantas vezes imperceptíveis, embora
“expostas ao olhar de todos”: [tais setores] “dividem com o comprador a
propriedade. São ainda mais espertos, eles ficam com ela!”, pois um carro não
anuncia o nome nem o estilo de quem “pensou tê-lo comprado; (...) o que ele anuncia
é a marca do fabricante. Pagamos às montadoras o que compramos, mas, de certa
maneira, elas ficam com o que vendem. Permanecemos apenas locatários. Somos
roubados, mas em troca podemos, enfim, compreender a máxima famosa de Prudhon: ‘A propriedade é um roubo’!”. E o escritor finaliza, ironicamente, acrescentando
que, iludidos, ainda fazemos fila para multiplicar, no sentido de apoiar e
fomentar, a publicidade da qual somos vítimas.
O que Serres sugere é encontrarmos o que é próprio de uma
sociedade (propre também pode ser
traduzido do francês como limpo/limpa, e aqui a ambiguidade de sentidos é
importante)), a fim de descobrir o que realmente há nela depois que a
desvencilhamos de “tsunamis
de lixos” e de dejetos dos
mais variados tipos: industriais, tóxicos, culturais, publicitários,
identificadores sociais (carteiras, cartões de crédito, talões de cheques),
etc. e tal. Neste contexto atual, de “invadir
o mundo e ocupar sua extensão, corremos o risco de perder o caminho da
hominização”, já que vivenciamos
inclusive o perigo cada vez maior de sermos locatários do planeta, em vez de o
habitarmos de forma responsável, consciente e plena. Então, é o retorno a este
processo de hominização que o autor propõe, nem que seja apenas estando atentos
ao reconhecimento do lixo que acumulamos e da poluição diária que respiramos (e
que nos sufoca) de forma ininterrupta, em diversas áreas, para tentar
minimizá-los também dentro de nós. Difícil? Muito. Mas não de todo impossível.
Leila Míccolis
VI Encontro Nacional do Mulherio das Letras. Participação especial entre as Mulherageadas: Rui de Habeurim de 18 a 22 de Outubro...