sábado, 26 de dezembro de 2015

sábado, 22 de março de 2014

CURSO DE ROTEIRO ON LINE DE TELEVISÃO / CARPINTARIA DRAMATÚRGICA, POR LEILA MÍCCOLIS

 

Caminhamos por roteiros, por rotas de palavras, por passos que avançam sempre em múltiplas direções: cada ato nosso é feito de diversos textos, intenções, finalidades. Como na vida, um curso de roteiro de novela de televisão não serve apenas para este fim. Desenvolve as faculdades imaginativas, considera o processo criativo como um artefato, sujeito a uma carpintaria (estruturação orgânica do constructo ficcional), facilita a organização e ordenação do pensamento, fornece técnicas e práticas de uma nova experiência na área das Letras, aprimora a linguagem escrita, a comunicação, a observação, a percepção, a sensibilidade e amplia horizontes. A humanidade narra-se desde os tempos das cavernas, por desenhos e mímica — a fala foi um incrível avanço, e até hoje  aprendemos com ela.

O dia em que uma sociedade não tiver mais histórias para contar está condenada ao desaparecimento.

 

ALGUMAS FRASES SOBRE O OFÍCIO DE ESCREVER

“O nível imaginário (…) é apenas a ponta do iceberg do ser humano.” – Lacan

“Viver é lutar com demônio nos recônditos do coração e da mente. Escrever é participar do nosso próprio julgamento.” – Ibsen

“Dê-me três linhas escritas por um homem e terei motivo para enforcá-lo.” – Richelieu

“Com outras coisas ninguém se envergonha de ganhar dinheiro.  É como se, confessar-se trabalhador cultural, fosse confessar-se automaticamente vagabundo…”  (…) Não me peça para dar de graça a única coisa que tenho para vender.” – Cacilda Becker

“A dramaturgia começa com a história da Humanidade.” – Doc Comparato

“Os três elementos mais importantes para se fazer um filme são um bom roteiro, um bom roteiro e um bom roteiro.” – Alfred Hitchcock

METODOLOGIA DO CURSO:

O curso é constituído por 15 apostilas com dez exercícios cada uma.

 

MODALIDADES:

ou em duas etapas, comprando a apostila e quando acabar de ler e fazer os exercícios passar para o treinamento prático com a correção dos mesmos, por e-mail;

ou em uma única etapa, com prática e teoria simultâneas (e-mail para você não ter obrigação de dias e horários rígidos – se tiver tempo disponível as aulas podem ser diárias, embora o prazo para concluir o curso seja de quatro meses;

Caso você se interesse e queira mais informações (sem compromisso) do valor do investimento e do conteúdo integral do curso, contacte-me através do e-mail:

blocos@blocosonline.com.br


segunda-feira, 17 de março de 2014

Dia do Poeta, em Natal, 2014


Mesa de debate sobre Poesia Marginal em comemoração ao Dia Nacional da Poesia, em 14 de março de 2014, Natal/RN, promoção da Fundação José Augusto. Na mesa, da esquerda para a direita: Eduardo Alexandre, Clara de Goes, Plínio Sanderson, Aluízio Mathias (coordenador), João Batista de Morais Neto (João da Rua) e eu.


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

POESIA COMENTADA

  Tive o prazer de conhecer o livro Fábulas para adulto perder o sono, quando participei do júri do Concurso Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte, este ano. Como o título sugere, trata-se de uma poesia provocativa, inquieta, muitas vezes incômoda e cruel, como a realidade cotidiana. Fiquei muito impressionada com a ousadia da autora (pelo menos o pseudônimo sugeria ser voz de mulher, embora nem sempre isto seja comprado ao final, já que muitos autores colocam o nome da filha ou da esposa no pseudônimo), que não se intimidava com desfechos violentos, sendo capaz de levar até as suas últimas consequências o desenvolvimento de sua ideia:

Os Três Porquinhos

Decepcionados com
Um mundo onde
Ou você come
Ou é comido
Os três porquinhos
Deliberaram
Sair da pocilga 

À noite
Entraram na casa
E assaram os donos: 

As maçãs nas bocas.

Após o julgamento, quando pude conhecer a identificação dos concorrentes, vi que se tratava realmente de uma mulher: Adriane Garcia.

Desde seu livro, eu poderia transcrever inúmeros outros poemas que me fascina(ra)m, como Romeu e Julieta, Pinóquio, Branca envelhece na neve, Diamante, E o rato roeu a roupa…, Bela Acordada, e tantos outros textos de uma poesia que traz  para a pós-modernidade fábulas e mitos transmitidos de geração a geração, transpondo-os para os tempos atuais, com aguçado senso crítico. O conjunto da obra, muito bem urdido,  lembrou-me os sangrentos e macabros contos infantis originais medievais, antes de serem adaptados por Andersen e os irmãos Grimm que lhes adocicaram e lhes deram finais felizes, segundo o historiador cultural Darnton. Uma obra bem dentro da volta do trágico nas sociedades contemporâneas. Porém, para não me estender demais, transcrevo apenas mais um poema incrível, que fala das potencialidades pessoais que todos temos e que tantas vezes usamos inabilmente, desastrosa e desastradamente…

Desastrada

Tenho uma varinha do condão
e uma marca de nascença num braço:
Quero e acontece. 

Só eu percebo magia
Enquanto sorvo a sopa.
Meu feitiço é lento:
Às vezes, contra a feiticeira
Sempre, tarde demais.

Para minha alegria, este livro acaba de ganhar a Segunda Edição do Prêmio Paraná de Literatura, na categoria poesia, e eu aplaudo, porque Adriane Garcia é uma das grandes revelações para mim neste ano de 2013. Quem quiser conhecer mais a obra dessa mineira, ela está no Facebook, quase diariamente postando seus versos, tantas vezes desconcertantes, desnorteantes, e  escandalosamente belos.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

LANÇAMENTO DO DESFAMILIARES EM SÃO PAULO

Desfamiliares - Obra poética completa de Leila Míccolis (1965 - 2012) será lançada no dia 7 de novembro de 2013, em São Paulo, na Livraria Martins Fontes - Paulista (Av. Paulista, 509, próximo à Estação do Metrô Brigadeiro), das 18.30 às 21.30 horas. A obra reúne meus livros solos, os em parceria (todos esgotados), os poemas dispersos em antologias, uma parte inédita, currículo resumido e fortuna crítica.
Capa: "Fauna", Urhacy Faustino e Mônica Banderas
Prefácio: Glauco Mattoso
Apresentação: Antonio Vicente Seraphim Pietroforte
Este livro vem mantendo-se, há quatro meses seguidos, na lista dos dez mais vendidos na loja virtual da Editora Annablume, para grande alegria minha que sempre contestei o chavão: "poesia não vende"... (Leila Míccolis)


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domingo, 26 de maio de 2013

LANÇAMENTO DE MINHA OBRA POÉTICA COMPLETA, NO RIO

                         Desfamiliares (1965 - 2012)
Reúne livros esgotados, antologias, inéditos, currículo e fortuna crítica

7 de junho, às 19 horas, na Livraria da Travessa, de Ipanema

Eis o convite, desde já obrigada pela divulgação e pela presença.
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sábado, 1 de setembro de 2012

Meu novo Jornal Literário na web

De uns dias para cá, meu paper li transformou-se em Jornal Literário, com atualizações diárias. É um jornalismo diferente, em que apenas escolho os temas genéricos a serem abordados (culturais: literatura, saúde, ecologia, entretenimento, artes e afins) e a programação do gmail procura e disponibiliza as notícias automaticamente; então, todo dia, o noticiário é sempre uma surpresa, inclusive para mim, que me divirto muito com esta situação, de esperar a próxima edição, um tanto às cegas. Não totalmente: alguma notícia que eu não queira ou que não esteja dentro da linha editorial traçada por mim, posso eliminar, e tenho feito; porém ainda não consigo acrescentar notícias que eu ache interessantes — com o tempo aprenderei. Considero o paper li uma ferramenta bastante interessante, porque ela é direcionada, fornece apenas notícias e informações sobre a sua área de atuação e sobre outras que com ela se interconectam. Se você quiser conhecer, o endereço do meu Jornal Literário é: http://paper.li/leilamiccolis/1308264181

quarta-feira, 18 de julho de 2012

FACE TO FACEBOOK


Eis-me face a face com o Face. Inegável que ele tem sido Não posso esquecer-me de que o Face tem sido importante para certas pessoas (companhia? informação? comunicação?) que um casal paulista registrou o nome do filho de Facebookson, em agradecimento por ambos terem-se conhecido lá (o amor é lindo... embora o garoto, quiçá traumatizado, nunca queira ter filhos na vida). Quanto a mim, resisti por longo tempo a entrar, pelo frenetic show que há nele. Porém estão lá muitos amigos que gostam de conversar pelo Face muito mais do que por e-mail, e decidi participar depois de prestar meu exame de doutorado – o que fiz, exatamente no dia seguinte. Para meu espanto e surpresa, tenho me divertido muito com ele.

Há muito disso: vitrines sem conteúdo, armazéns de frases feitas. Porém até nestas dá para encontrar certa graça, se nos propomos a questioná-las. Outro dia, alguém postou algo do gênero: não seja o sol que brilha, mas o vagalume que ilumina. Comentário meu: “acho que devemos ser os dois, sol de dia e vagalume à noite, porque os brilhos são diferentes”. E pensei: já imaginou só vagalumes de dia? Ia ser muito escuro, igual à noite. (Amo o sol...).

Há também gatófilos e cachorrófilos como eu, então me sinto em casa e tão à vontade que me animei a fazer dois álbuns de fotos: Afetos múltiplos e Eventos inesquecíveis: estes últimos com encontros marcantes, em geral com poetas – tem até Cora Coralina lá: conheci-a em 1982, quando fui a coordenadora do setor de Literatura do Rio no 1º Festival de Mulheres nas Artes (Teatro Ruth Scobar/SP). Aliás, depois que coloquei Coralina, muito mais gente me encontrou no Face. Chamo este fenômeno de brilho por osmose: se você é amigo de quem conhece algum nome famoso, parece que você passa a estar mais perto dessa celebridade. As pessoas “se sentem”. Sentem-se importantes também.

Alguém há de me perguntar: e por quê você quis aparecer ao lado de Coralina: não foi pelo mesmo motivo? Não, o meu foi afetivo, o partilhamento de um momento de grande emoção. Quando vi aquela senhora tão velhinha entrar no Festival (nem sabíamos se ela iria, pois não tinha confirmado a presença) fiquei encantada: ela parecia tão doce quanto os doces que fazia. Caminhava com dificuldades, ajudada por duas amigas. Dei para ela autografar o catálogo do evento, e ela perguntou-me intrigada, sem nem me olhar: - “Você não comprou meu livro?”. Presenteei-lhe com a verdade: “não tenho dinheiro no momento, Cora”. Então ela levantou os olhos muito límpidos, me viu – este instante foi incrível – sorriu para mim (que gracinha!) e disse, como quem faz uma travessura inocente e nova: – “Sabe?, eu nunca autografei um catálogo”... e ficamos conversando um pouco – a fila de  autógrafos era enorme – sobre a “dor e a delícia” de gostarmos de fazer poesia. Depois, ela sugeriu que eu ficasse por ali, perto dela (como se eu pudesse sair... eu estava em estado de transe hipnótico), e de vez em quando, entre uma e outra dedicatória, trocávamos algumas frases, eu e Coralinda.

Falei no início em vitrine mas, em meio a tantas mensagens, observo que a visibilidade pessoal esperada e tão alardeada é um tanto relativa: há que sermos garimpeiros ou entrarmos no Face com o espírito de “caça ao tesouro” ("sem lenço e sem documento", leia-se, sem mapa com pistas); porém, esperta que sou, já sei onde encontrar meus ouros: tenho tido muito prazer em acompanhar as inteligentes postagens do Chico (chequei até a compartilhar uma música através dele), da Ivana, do Zeballos, da Márcia Sanchez, da Leninha, do Braulio Tavares, do Affonso Romano, do Henrique Cairus, da prata da casa – Urhacy Faustino e Mônica Banderas – entre vários outros. Isso me faz pensar no óbvio: o ser humano estraga ou enriquece as redes sociais de que participa. Simples assim.

Leila Míccolis

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Jogamos mesmo fora todo lixo que não presta?



Não sou muito adepta de comentar livros lidos, pois o texto sempre acaba parecendo uma resenha, um resumo, simplificado e superficial. No entanto, mesmo correndo este risco, desta vez quero apresentar para quem não conhece uma obra do francês Michel Serres, filósofo, professor de História das Ciências e membro da Academia Francesa. Chama-se: O Mal Limpo – poluir para se apropriar?  Devo a indicação da leitura deste provocativo texto à jornalista Marli Berg, em uma de suas colunas em Blocos Online. Pelo título percebe-se logo de início que o autor trata de diversos mitos modernos e a forma como o faz é direta, provocante, instigante, fascinante.

Serres mostra que todo animal, pela urina, pelo excremento, pelo sangue e pelo esperma –  conforme o caso –  apropria-se de um local, terreno ou território (que pode ser a territorialidade de um país ou de um corpo). Os cães, os javalis e os gatos urinam para marcar sua passagem; as tribos antropófagas, ao devorarem o inimigo, apossavam-se das qualidades dele – só os guerreiros considerados heróis eram merecedores de tal honraria; nos rituais de sacrifício religioso (ainda hoje) e nas guerras (tradicionais), a terra onde o sacrificado ou o inimigo tomba torna-se sagrada para o vencedor, “legitima-o em sua posse”.

Sujar, no sentido de macular, de marcar presença, pertence ao animal –  ao animal que também somos: a sujeira e a limpeza delimitam a propriedade. Por exemplo: em um hotel (ou motel), após a saída de um hóspede, o próximo a se instalar exige roupas de cama limpas, para que possa apropriar-se e imprimir suas marcas, quaisquer que sejam, mesmo que seja apenas um simples amarfanhado nos lençóis; ninguém se enxuga, também, nas toalhas de outro, ou senta-se em vaso sanitário que não tenha o aviso de que foi higienizado. Não que o escritor preconize uma sociedade ascética – o excesso de limpeza é tão nocivo quanto o seu contrário; não, a direção que ele segue é outra – ao final exporei a proposta dele.

Serres tem o cuidado de observar a Modernidade Líquida (outro livro incrível, do sociólogo Zygmunt Bauman), analisando a poluição suave –  ou seja, sutil –  que mal percebemos de tanto que ela já está impregnada em nosso cotidiano: a poluição da marca e da propaganda –  imagem e som –  que atravessa nosso caminho e entra pela nossa casa. É belíssimo quando ele escreve que os outdoors roubam-nos a paisagem e que o barulho de uma televisão ligada apropria-se da convivência/fala entre as pessoas em um determinado local e até da intimidade do silêncio. Os poluidores sujam o mundo para dele se apropriar. Trata-se de uma expansão desterritorializada, globalizada, sem fronteiras, apropriação que nos faz ter um subjetivo tão poluído quanto o coletivo e o objetivo.

O pensador francês diversifica e amplia o conceito de lixo para inúmeras áreas, e em certo momento chega à indústria automobilística, refletindo sobre suas estratégias e ciladas – tantas vezes imperceptíveis, embora “expostas ao olhar de todos”: [tais setores] “dividem com o comprador a propriedade. São ainda mais espertos, eles ficam com ela!”, pois um carro não anuncia o nome nem o estilo de quem “pensou tê-lo comprado; (...) o que ele anuncia é a marca do fabricante. Pagamos às montadoras o que compramos, mas, de certa maneira, elas ficam com o que vendem. Permanecemos apenas locatários. Somos roubados, mas em troca podemos, enfim, compreender a máxima famosa de Prudhon: A propriedade é um roubo’!”.  E o escritor finaliza, ironicamente, acrescentando que, iludidos, ainda fazemos fila para multiplicar, no sentido de apoiar e fomentar, a publicidade da qual somos vítimas.

O que Serres sugere é encontrarmos o que é próprio de uma sociedade (propre também pode ser traduzido do francês como limpo/limpa, e aqui a ambiguidade de sentidos é importante)), a fim de descobrir o que realmente há nela depois que a desvencilhamos de tsunamis de lixos e de dejetos dos mais variados tipos: industriais, tóxicos, culturais, publicitários, identificadores sociais (carteiras, cartões de crédito, talões de cheques), etc. e tal. Neste contexto atual, de invadir o mundo e ocupar sua extensão, corremos o risco de perder o caminho da hominização, já que vivenciamos inclusive o perigo cada vez maior de sermos locatários do planeta, em vez de o habitarmos de forma responsável, consciente e plena. Então, é o retorno a este processo de hominização que o autor propõe, nem que seja apenas estando atentos ao reconhecimento do lixo que acumulamos e da poluição diária que respiramos (e que nos sufoca) de forma ininterrupta, em diversas áreas, para tentar minimizá-los também dentro de nós. Difícil? Muito. Mas não de todo impossível.

Leila Míccolis

domingo, 27 de maio de 2012

Fui um réptil?

Em criança, nunca me dei bem com brincadeiras do faz-de-conta. Achava um reino um tanto desconfortável, onde a realidade, em confronto com a imaginação, revelava-se frustrante e insuficiente. Para mim, era muito difícil imaginar, nas panelinhas, comidinhas inexistentes, ou então ensinar bonecas mudas, que me olhavam alheias e indiferentes e nunca aprendiam absolutamente nada. Entendo agora que para mim, na época, o faz-de-conta assemelhava-se a certas propagandas enganosas que assistimos hoje na publicidade.

O nunca encenar “teatrinhos” na infância possivelmente marcou muito a minha postura diante da vida, fazendo-me distinguir no dia a dia fantasia da realidade, não para  dicotomizar-me, mas para aprender a trabalhar com os diversos ângulos de mim, simultaneamente: eu e meus múltiplos. Nem sempre é fácil na vida real saber onde acaba o “se” e onde começa o “agora”, talvez porque a realidade, com suas diversas interpretações, pode ser tão fluida quanto a fantasia. No entanto, ciente dos meus mundos paralelos, acabei evitando cair na armadilha de protagonizar papéis na vida real, me tornando uma personagem de mim mesma.

O fato inconteste é que sempre preferi o diálogo com os livros. Eles me mostravam, por exemplo, o habitat dos peixes, cheio de cores, formas e magia. Como eu adorava o colorido mundo submarino com seus animais e sua flora exótica. Antes mesmo de saber ler, eu me deliciava com as ilustrações, imaginando histórias das profundezas abissais. Isto era bem diferente do mero faz-de-conta. O oceano existia, os peixes também, e eu apenas inventava aventuras. Os livros me revelavam o mundo real, enquanto o faz-de-conta me soava como um palco, em que só se encenava monólogos. A ficção, portanto, era uma forma de eu própria transitar pelos universos e não de moldá-los à minha imagem e semelhança. Esta diferença de perspectiva fazia muita diferença. Sempre fez. Nas fotos coloridas havia diversos espécimes de animais, inclusive a tartaruga marinha. Pronto: cheguei onde eu queria.

Falando no facebook sobre meu micro, lento que nem tartaruga, revelei ao Chico Abelha que minha relação com elas era muito pouco amistosa, digamos até conflituosa. Então ele perguntou: “como analisaríamos uma mulher que adora gatos e cachorros, mas tem horror crônico a tartarugas...? rsrsrssrs! freud explicaria?” Devidamente instigada, fiquei de escrever sobre  o assunto: a rara exceção do meu amor aos animais. Não se trata porém de desamor, é bem mais complexo: algo me incomoda profundamente nelas e, ao nos depararmos frente a frente, face a face, olho a olho, ocorre de imediato o processo atração x rejeição: elas correm (maneira de dizer) em minha direção e eu corro em direção contrária a delas. Não me importo com o tamanho: mesmo que você me apresente a mais meiga, suave e menor tartaruga do mundo na palma de sua mão, provavelmente me sentirei ameaçada. Lembro-me de que, uma vez, visitei alguém que tinha um cão feroz e uma tartaruga no quintal, e quando a dona da casa me disse: – “um momento que vou prender o cachorro”, eu pedi: – “não, por favor, prenda apenas a tartaruga”... A gargalhada foi geral, porque se tratava de uma tartaruga minúscula, “inofensiva” segundo sua dona; mas só me senti segura com a tartaruga presa no banheiro – nem preciso dizer que minha visita demorou o mínimo possível para não estressar a tartaruguinha.

Volto ao início: mentira, invenção, teatralização, fantasia, mesmo sendo bem difícil às vezes de perceber a diferença, elas ficam muito claras se as transponho para  minha ligação (des)afetiva com as tartarugas. Vou dar exemplos: mentira é dizer que amo tartarugas. Invenção seria alardear que salvei alguma de morrer devorada por um tubarão; que tirei alguma foto sorrindo acariciando o casco de alguma delas, é pura teatralização (inclusive, se virem alguma fotografia assim, saibam que provavelmente ela foi editada...); e, por fim, trata-se de fantasia quando pratico nado de peito (o tipo de estilo que eu mais gosto) e me sinto como se fosse uma tartaruga marinha, o que ocorre frequentemente. E aí realmente entra Freud, meu caro Chico: até meu próprio signo capricórnio (a cabra marinha) indica que devo ter vindo do mar (meu sonho recorrente é sempre com ele) antes de pisar na terra. Não que eu queira fazer aqui nenhum tipo de regressão, mas pode ser até que em alguma encarnação passada, através da metempsicose transmigratória, eu tenha sido uma tartaruga que acabou virando sopa... (não entro em hipótese alguma em restaurantes que pescam lagostas ou peixes vivos, tipo: pesque e pague); daí se explicaria o total incômodo que sinto ao ver uma tartaruga – revivo a dor ancestral da profanação: ser caçada, morta, esquartejada e comida publica e impudicamente à mesa? – e também minha enorme resistência em sentir prazer de degustar quaisquer tipos de “frutos do mar”..

Leila Míccolis. 

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Recentes entrevistas comigo:
  • No Youtube, entrevista para o programa de televisão Imagem da Palavra,  entrevistadora: Guga Barros

http://www.youtube.com/watch?v=uO4iBsFDwy4 - 1ª parte

  • No blog da famosa revista Escrita (agora digital), entrevistador: Wladyr Nader

VI Encontro Nacional do Mulherio das Letras - Rio de Janeiro

VI Encontro Nacional do Mulherio das Letras. Participação especial entre as Mulherageadas: Rui de Habeurim de 18 a 22 de Outubro...