Hoje recebi um e-mail de um escritor que propunha colocar à venda em Blocos um livro seu porque o site desse autor "não tinha fins lucrativos", no dizer dele próprio. Sempre que leio esta frase ou algo semelhante com relação a literatura, fico refletindo com os meus botõezinhos: mesmo em uma sociedade capitalista como a nossa, sabemos que o lucro individual não vem apenas de proventos e rendimentos financeiros, mas se origina também do saber, da instrução, da conscientização social, do aprimoramento da análise crítica, da ética, do respeito, do caráter, da criatividade e de outros valores morais que fazem o ser humano evoluir, melhorar, crescer em suas potencialidades afetivas, intelectuais e sensórias. Esperamos então que, através da navegação dessas quase 50.000 páginas online de Blocos, você ganhe muito em matéria de leitura, de informação e de reflexão, alargando fronteiras, intercâmbios, trocando idéias, sugestões, ampliando o exercício da cidadania, através da arte e da literatura. Portanto, é com muito orgulho e alegria que afirmamos: "Blocos On line e este blog têm fins lucrativos".
Precisamos refletir mais e parar de percebermos a realidade pela restrita visão dos buracos das fechaduras, achando que apenas a literatura é uma arte celestial, dom misterioso e divino, isento de impostos e tributações... Como qualquer produto cultural na atual economia globalizante, ou ela segue as leis do mercado ou está alijada dele. Por essas e outras eu sempre digo que a poesia brasileira ainda está muito mais para as intrigas da corte do século XVIII do que para a sociedade tecnológica do século XXI. (LM)
12 comentários:
Leila querida, este texto resume bem a maneira como nos vemos enquanto escritores x como somos vistos como tais. Se nós mesmos não entendermos que o que produzimos deve gerar renda, quem entenderá?
Beijos em seu coração,
Márcia
O BRASIL SÓ SERÁ VISTO COMO UM PAÍS DESENVOLVIDO (E PÓS-MODERNO) QUANDO OS POETAS E ESCRITORES FOREM RESPEITADOS E REMUNERADOS COMO PRODUTORES DE CULTURA, ASSIM COMO OS CINEASTAS, OS MÚSICOS ETC. ESCREVER NÃO É UMA ATIVIDADE ESPORTIVA OU LAZER DE UMA CLASSE OCIOSA, NEM UMA ATIVIDADE DE FIM DE SEMANA, MAS O ESCRITOR QUE SE VÊ COMO TAL LEVA A SÉRIO O SEU TRABALHO E HOJE MAIS DO NUNCA PELA INTERNET ELE TEM NOVOS CANAIS DE COMUNICAÇÃO COM SEU PÚBLICO. POR ISSO LEILA MICCOLIS ACERTOU EM CHEIO NA RAIZ DO PROBLEMA: OU SEJA, A PROFISSÃO DE ESCRITOR!
ESSE DEBATE DEVE APROFUNDAR-SE, TEM DE APROFUNDAR-SE PARA LEVANTAR OS POETAS DO ESTADO ANESTÉSICO, DO TORPOR EM QUE NÓS NOS ENCONTRAMOS.
TRATA-SE DE UM PROBLEMA DE SOBREVIVÊNCIA DA NACIONALIDADE.
ROGEL SAMUEL
Através de Ulisses, conheci seu blog. Concordo com teu texto -- muito real --- eu, com um livro publicado, também enfrento essa visão distorcida da realidade de hoje, infelizmente: parece que "não devo vender" e sim doar, doar... assim muitas pessoas me passam essa mensagem quando lhes comunico que tenho um livro meu à venda -- uma forma de pensar distorcida, ao meu modo de ver. Temos um produto, fruto de nosso esforço e nosso trabalho e é assim que ele deve ser visto, valorizado. Um grande abraço pra ti. Lúcia Constantino.
poeta Leila Míccolis
ótimo texto, cheio de verdade verdadeira. parabéns!
tenho em meus "favoritos" o endereço de sua página na web e agora encontrei "Leila Míccolis - links e thinks", que também guardei.
abraço!
Juliana Meira
Rogel, é uma luta constante e diária, aguerrida, mas sinto que este é um bom combate, por isso não desisto dele. Beijos, Leila
Lucia, seja muito bem-vinda. Amiga de Ulisses é minha também. Pois é, pagamos até o ar que respiramos, só o livro, que não é uma mercadoria nada barata, deve ser doado... E com este tipo de comportamento desvaloriza-se (e até alija-se) o trabalho do autor, do editor e das livrarias. Enquanto esta mentalidade não for mudada, a situação permanecerá a mesma. Beijos, Leila
Muito obrigada, Juliana, chegue mais! Beijos, Leila
"Escrevo melhor em dólar"
Rogel Samuel
Recentemente minha amiga Leila Miccolis escreveu e publicou um texto no seu blog
http://leilamiccolis.blogspot.com/ intitulado "O LUCRO DO SABER".
"Hoje recebi um e-mail de um escritor que propunha colocar à venda em Blocos um
livro seu porque o site desse autor "não tinha fins lucrativos", no dizer dele próprio",
disse Leila, e defendia a seguir a remuneração dos autores.
Ao seu texto escrevi o seguinte comentário (eu tenho a mania de escrever em maiúscula,
desculpem): O BRASIL SÓ SERÁ VISTO COMO UM PAÍS DESENVOLVIDO (E PÓS-MODERNO) QUANDO OS POETAS E ESCRITORES FOREM RESPEITADOS E REMUNERADOS COMO PRODUTORES DE CULTURA, ASSIM COMO OS CINEASTAS, OS MÚSICOS ETC. ESCREVER NÃO É UMA ATIVIDADE ESPORTIVA OU LAZER DE UMA CLASSE OCIOSA, NEM UMA ATIVIDADE DE FIM DE SEMANA, MAS O ESCRITOR QUE SE VÊ COMO TAL LEVA A SÉRIO O SEU TRABALHO E HOJE MAIS DO NUNCA PELA INTERNET ELE TEM NOVOS CANAIS DE COMUNICAÇÃO COM SEU PÚBLICO. POR ISSO LEILA MICCOLIS ACERTOU EM CHEIO NA RAIZ DO PROBLEMA: OU SEJA, A PROFISSÃO DE ESCRITOR!
ESSE DEBATE DEVE APROFUNDAR-SE, TEM DE APROFUNDAR-SE PARA LEVANTAR OS POETAS DO ESTADO ANESTÉSICO, DO TORPOR EM QUE NÓS NOS ENCONTRAMOS.
TRATA-SE DE UM PROBLEMA DE SOBREVIVÊNCIA DA NACIONALIDADE.
Sobre este tema me lembro do seguinte e curioso fato artístico, desta vez musical, narrado por
Nalen Anthoni em vídeo da EMI.
Depois da Segunda Guerra, o compositor inglês William Walton compôs um concerto para Jascha Heifetz a pedido deste. Depois, em 1956, o violoncelista Gregor Piatigorsky, um dos maiores do seu tempo, fez o mesmo pedido a Walton. Mas Piatigorsky fez o pedido através de um intermediário, o pianista Ivor Newton.
Walton respondeu: "Eu sou um compositor profissional. Escrevo não importa o quê para
qualquer um desde que me pague..." E depois de uma pausa, acrescentou: "Eu escrevo melhor quando me pagam em dólar".
Walton terminou o concerto no mesmo ano, o magnífico Concerto para Violoncelo e Orquestra, que está no vídeo, e que foi executado pela primeira vez em janeiro de 1957 por Piatigorsky com a Boston Symphony Orchestra, dirigida por Charles Munch.
Não se diz quanto o violoncelista pagou.
"Escrevo melhor em dólar"... Que maravilha esta sua crônica.
É exatamente isso o que eu penso. Lembra-me uma entrevista que vi com Fellini certa vez na TV. Perguntaram a ele como se dava o seu processo criativo (crentes que ele enalteceria alguma etapa da sua "sublime" criatividade) e ele respondeu, simples e "cinicamente" - principalmente para a época de 70: "É assim: tenho uma idéia e corro atrás de um patrocinador. Ele me paga e aí sou obrigado a realizar o filme. Igual aos artistas plásticos na Idade Média que, se não fizessem suas pinturas, tinham as mãos cortadas pelo respectivo mecenas"...
Na época foi o tipo da resposta que gerou muito mal estar na própria entrevistadora e nos intelectuais de plantão... Do meu canto, aplaudi-o muito, como faço agora com você.
Fico feliz que um texto meu esteja dando continuidade ao debate... Você me autoriza a divulgá-lo no orkut, na minha comunidade: profissionalização do escritor, e em Blocos?
Leila, querida, que bom saber que agora você também tem um bloguinho! Ops, melhor dizendo: "bloquinho" - rsrsrsr.
Oh, você está certa. Afinal, quem escreve precisa sobreviver e esse é o trabalho do escritor. Escrever fantasia não me distancia da realidade.
Beijos, com carinho,
Madalena
P.S.: parabéns pela linda notícia que li em seu último informativo Blocos, onde informa que você foi merecidamente eleita membro Correspondente da Academia Cachoeirense de Letras.
Amei essa crônica, Leila. É a mais pura verdade. O Brasil ainda está muito atrasado nesse sentido. Precisamos igualar a Literatura a todas as outras ciências.
Beijos, amiga. E parabéns, mais uma vez, pelo conteúdo de extrema importância do texto e de todo o Blog.
Chris
Chris querida, você também é uma "promoter" cultural... sabe das coisas e, principalmente, de que apoio é essencial. Obrigada pelo seu. Milhões de beijos.
Postar um comentário