O episódio me veio à tona quando,
há algumas semanas, ouvi alguém parodiar a mesma frase do italiano, só que se
referindo a um diretor de televisão brasileiro... Alfinetadas (alheias) à
parte, acho o humor essencial nas respostas, no trabalho e principalmente nas
artes. Desde criança ouvimos dizer: "muito riso é sinal de pouco
siso". Portanto, de alienação, de imaturidade. Começamos desta maneira
nosso aprendizado para a tristeza: mas, por quê tem que ser assim?
"O Nome da Rosa", de
Humberto Eco, gira em torno de um livro filosófico (extremamente sério) que
debatia justamente o riso. É que este, afrouxando a rigidez, exerce uma crítica
antiformalista e propicia um desmoronamento de dogmas, o que — para os ascetas
moralistas — levaria ao caos. Mais do que ameaça, um perigo mortal.
Há risos de zombaria, de desdém,
de pretensa superioridade, de falsidade, e vários outros intencionalmente
destrutivos; porém rir, ato exclusivamente humano — como a fala —, não pode ser
considerado um mal em si. No ocultismo, o riso é força poderosa contra certos
feitiços (lá vem cinema de novo: lembram-se, das Bruxas de Eastweek?). No
cotidiano, ele relaxa toda a musculatura e predispõe a pessoa a desamar-se, ou,
como diria Reich, a destensionar sua armadura corporal. Nietzsche afirmou:
"não acredito num homem que não saiba rir".
No Brasil, reaprendemos a rir em um
período paradoxalmente muito mal-humorado (talvez e principalmente por isso). A
partir de 1964, sobressaíram o humor negro dos cartuns, o humor corrosivo das
charges, dos quadrinhos, das tiras, do FBAPA (Festival de Besteira que Assola o
País, através do livro de autoria do jornalista Sérgio Porto). Esta prática
também atingiu a poesia, conforme expôs Nicolas Behr, um dos representantes da
Geração Mimeógrafo: "Sarcasmo sempre foi fundamental. Só ele tira este
ranço de capitanias hereditárias e acaba com o discurso e com a retórica na
poesia". Leminski também fala de "RIR", como característica
desta poesia que estreitou parentesco com o humor, em geral considerado
"estilo menor" em relação à poesia séria e intimista.
É compreensível, em uma sociedade
que privilegia mais a sobrevivência do que a vivência, que o riso, a alegria, a
busca do bem-estar assuste e por vezes seja até condenada; mas já é tempo de
entendermos a revolução do riso, vendo-o como uma postura lúdica saudável, e
até terapêutica, em vez de exaltarmos uma vida doentiamente carrancuda e
desprazerosa, embebida exclusivamente em lógica formal, mantida em formol.
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