quinta-feira, 30 de julho de 2009

quinta-feira, 2 de julho de 2009

POESIA COMENTADA

pequeno poema Rogel Samuel
pequeno poema se insinuando na minha solidão eu te amo apenas quando vale a pena não te ter à mão sei que aparecias na nudez suprema da imaginação pequenino tema posto que poema és contramão =-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=
Se alguém me perguntar o que a poesia é para mim, resumirei em uma palavra: contramão. Não no sentido dela ser sempre, obrigatoriamente, uma via contrária ao pensamento tradicional, mas sim uma via de acesso a paralelas reflexões. Mais no sentido, portanto, de con-frontar, ou até, de enfrentar. Ou seja: de dialogar. Este "pequeno poema" — pequeno apenas por ter doze versos — me toca muito, porque, em vez de tratar do "papel social do escritor", tema sempre muito interessante porém já bastante versado (e versejado) pelos nossos poetas, ele aborda, de modo aparentemente descomplicado, a complexidade do processo criativo, e, principalmente, a dolorosa constatação do poeta ao perceber que poemas só surgem em momentos de isolamento. Contradição paradoxal: para falar-se de amor é preciso se estar só (sem o outro, no momento da criação, pois quando se está junto, a escrita é sempre adiada): "Eu te amo apenas / quando vale a pena / não de ter à mão" — já que, neste caso, a poesia estaria na própria vida e não em palavras que a ela se referem. A tão endeusada criatividade aparece aqui como um substituto da realidade, imaginando-a, em vez de vivenciá-la (ficção x realidade, questão sempre tão fascinante quando desponta). É neste sentido que o poeta, sutilmente, manifesta sua raiva e até certa relutância em verbalizar a idéia, como se, através dela, modelasse a solidão dando-lhe forma. A palavra gera, produz, formata, cria e perigosamente materializa. Daí, a forma minimal, a fala, econômica e precisa, quase que apenas para registrar a angústia do momento. Uma lírica contida, filosófica, contemporânea, que, no extravasamento do eu, encontra material para reflexão mais ampla. E não há como deixar de refletir, lendo este belo poema, na inquieta contramão (contra a mão) do fazer poético, no eterno conflito do ente, entre o ser e o estar.

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