quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

POESIA COMENTADA




BRINDE

ano novo: vida
nova
dívidas novas
dúvidas novas


ab ovo outra
vez: do revés
ao talvez (ou
ao tanto faz como fez)


hora zero: soma
do velho?
idade do novo?
o nada: um ovo


salve(-se) o ano novo!


José Paulo Paes
(SP, 22/7/1926 - 8/10/1998)



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Paulo Paes é um dos meus poetas preferidos, por isto resolvi acabar o ano de 2009 e começar o de 2010 com este poema, do livro “Poesia Reunida” (Brasiliense, 1986, SP), porque, além dele nos proporcionar um brinde literalmente efervescente e borbulhante, ainda nos oferta, de brinde, o que o poeta tem de melhor: sua ironia finíssima, sua crítica ferrenha aos hábitos e aos costumes enferrujados e empedernidos, seu senso de observação incomuníssimo... Ele é tão hábil e lúdico, que consegue colocar uma expressão latina ou sugerir referenciais eruditos, como o ovo primordial, de modo a que o leitor não precise quebrar a cabeça para entender a brincadeira do jogo de sons e sentidos, que se multiplicam a cada palavra, para  por fim nos surpreender com uma frase simples, desdobrável em diversos significados: salve o ano novo, salve-se o ano novo, salve-se do ano novo, ou:  o ano novo... salve!  


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