domingo, 14 de junho de 2009

POESIA COMENTADA

Quatro haicais de Lena Jesus Ponte

Igreja fechada.

Dorme um anjo a sono solto no pátio vazio.

***

Seis horas da tarde. O sino assusta o silêncio.

Revoada de anjos.

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Porta entreaberta Um vento assalta papéis

e rouba poesia.

***

Pousa a ave no mármore. Num leve tremor, a estátua sente o que é ter vida.

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Eu já a conhecia de nome, sabia que ela era Professora de Língua Portuguesa e de Literatura Brasileira. Porém quando Lena, aqui no I Festival de Poesia de Maricá, me ofereceu seus dois livros: Na Trança do tempo – haicais e Ávida Palavra, fiquei simplesmente encantada. Ao abrir o Ávida Palavra, ao acaso, o primeiro poema que eu li dela, “Plena”, lembrou-me a estrutura de um poema que escrevi e que pertence a uma série minha, inédita, “Lições de Poiesis”. Apresentei-o a ela e rimos bastante da nossa sinastria poética. Eu acho ambos os livros excelentes leituras. Porém resolvi divulgar quatro haicais que eu amo (os dois primeiros de Na trança do tempo, os dois últimos de Ávida Palavra), até para abordar um ângulo interessante: muita gente imagina que haicai, por ser um poema minimal, é fácil de fazer. É justo o contrário: em três versos de 5, 7 e 5 sílabas, os poetas lidam, ao mesmo tempo, com o kigo, a concisão, a fragmentação, o impacto, a originalidade no tratamento, além das metáforas precisas, exatas, para transmitirem o efeito visual, plástico, a própria vida em movimento. Porém nada disso é problema para a autora, que sabe dialogar muito habilmente com suas “cenas” poéticas, fazendo com que reflitamos mais sobre um cotidiano que nos passa desapercebido, e que a poesia graciosamente (em diversos sentidos) nos devolve.

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