Há muito disso: vitrines sem conteúdo, armazéns de frases feitas. Porém até nestas dá para encontrar certa graça, se nos propomos a questioná-las. Outro dia, alguém postou algo do gênero: não seja o sol que brilha, mas o vagalume que ilumina. Comentário meu: “acho que devemos ser os dois, sol de dia e vagalume à noite, porque os brilhos são diferentes”. E pensei: já imaginou só vagalumes de dia? Ia ser muito escuro, igual à noite. (Amo o sol...).
Há também gatófilos e cachorrófilos como eu, então me sinto em casa e tão à vontade que me animei a fazer dois álbuns de fotos: Afetos múltiplos e Eventos inesquecíveis: estes últimos com encontros marcantes, em geral com poetas – tem até Cora Coralina lá: conheci-a em 1982, quando fui a coordenadora do setor de Literatura do Rio no 1º Festival de Mulheres nas Artes (Teatro Ruth Scobar/SP). Aliás, depois que coloquei Coralina, muito mais gente me encontrou no Face. Chamo este fenômeno de brilho por osmose: se você é amigo de quem conhece algum nome famoso, parece que você passa a estar mais perto dessa celebridade. As pessoas “se sentem”. Sentem-se importantes também.
Alguém há de me perguntar: e por quê você quis aparecer ao lado de
Coralina: não foi pelo mesmo motivo? Não, o meu foi afetivo, o partilhamento de
um momento de grande emoção. Quando vi aquela senhora tão velhinha entrar no
Festival (nem sabíamos se ela iria, pois não tinha confirmado a presença)
fiquei encantada: ela parecia tão doce quanto os doces que fazia. Caminhava com
dificuldades, ajudada por duas amigas. Dei para ela autografar o catálogo do
evento, e ela perguntou-me intrigada, sem nem me olhar: - “Você não comprou meu
livro?”. Presenteei-lhe com a verdade: “não tenho dinheiro no momento, Cora”.
Então ela levantou os olhos muito límpidos, me viu – este instante foi incrível
– sorriu para mim (que gracinha!) e disse, como quem faz uma travessura
inocente e nova: – “Sabe?, eu nunca autografei um catálogo”... e ficamos
conversando um pouco – a fila de autógrafos era enorme – sobre a “dor e a
delícia” de gostarmos de fazer poesia. Depois, ela sugeriu que eu ficasse por
ali, perto dela (como se eu pudesse sair... eu estava em estado de transe
hipnótico), e de vez em quando, entre uma e outra dedicatória, trocávamos
algumas frases, eu e Coralinda.
Falei no início em vitrine mas, em meio a
tantas mensagens, observo que a visibilidade pessoal esperada e tão alardeada é
um tanto relativa: há que sermos garimpeiros ou entrarmos no Face com o espírito de “caça ao tesouro”
("sem lenço e sem documento", leia-se, sem mapa com pistas); porém, esperta
que sou, já sei onde encontrar meus ouros: tenho tido muito prazer em acompanhar
as inteligentes postagens do Chico (chequei até a compartilhar uma música
através dele), da Ivana, do Zeballos, da Márcia Sanchez, da Leninha, do Braulio
Tavares, do Affonso Romano, do Henrique Cairus, da prata da casa – Urhacy Faustino e
Mônica Banderas – entre vários outros. Isso me faz pensar no óbvio: o ser
humano estraga ou enriquece as redes sociais de que participa. Simples assim.