Há algum tempo, uma artista famosa
declarou que, ao fazer seu check-up anual, "descobrira" através de
seu médico que estava com estresse... Que me desculpe a beldade, mas não era
então um estresse tão grande assim. Devia ser um estressinho de nada, já que, o
de derrubar-quarteirões, a gente diagnostica por conta própria; e, já que este
esgotamento (físico e/ou emocional) provoca um considerável aumento de
adrenalina, resolvi fazer, neste verão, um minitutorial, baseado em meu
autoaprendizado, para surfar o estresse, no intuito de tentar evitar sermos ou
derrubados por “caixotes”, ou bebermos muita água salgada, ou entrarmos no
redemoinho das ondas gigantes.
Primeiro sinal (ou sintoma): começa-se a
perceber o cansaço a partir dos inocentes barulhos diários, que de repente
aumentam de volume, irritando o pavilhão auricular. O liquidificador, então,
enlouquece, e as vozes humanas agridem. Tenta-se fugir deles, mas sempre esbarramos
com a televisão, com o latido do cão do vizinho, com o martelo, com o ranger da
porta empenada da sala.
A luz também passa a incomodar. Como os
gatos, você fecha os olhos para diminuir a claridade, e fica-se contanto os
minutos para chegar a noite, porque ela parece mais amena, serena e silenciosa,
certo? Errado. Quando você se deita, a insônia dialoga com você o tempo todo, e
é realmente inacreditável
O bom-humor tende a hibernar, até porque
ser “alegrinho” nos tempos atuais é desprender enormes somas... de energias.
Você começa a não querer encarar perguntas difíceis, embora a toda hora formule
questões complexas, do tipo: por quê toda rosquinha tem um buraco no meio? Por
quê ainda não inventaram uma rede com controle remoto? Naturalmente não convém
tumultuar muito o cérebro tentando achar as respostas; e procure também não
pensar obre a morte da bezerra, porque, neste caso, além de estressado, você pode
ficar deprimido. Mude o foco rápido, antes que seja tarde demais.
Exaurido, você pensa em largar tudo e
viajar, para não fazer nada; mas, ao mesmo tempo, trabalha cada vez mais, até
para poder arcar (algum dia) com a realização do seu sonho de viagem...
Na hipótese de você ser um estressado
agressivo, cuja reação é a de brigar com a própria sombra, cuidado: é bom não
descontar nos pratos ou enfeites da casa, pois, passada a crise aguda, você vai
é ter uma recaída por conta (literalmente) dos prejuízos. O melhor é respirar e
contar até 10. Se estiver muito fatigado, tente ir até 5 (porém menos de 3 nem
vale a pena iniciar a contagem).
Outro sinal evidente de esgotamento é
quando o estressado passa a arranjar as desculpas mais mirabolantes para não
sair de casa, mesmo que elas soem absurdamente falsas; não importa, qualquer
coisa é melhor do que a ameaça de movimentar-se em direção à rua. Você resiste
a ir à
Caso fique em casa, numa boa, se o
estressado em questão é dado à literatura, aproveitará os erros de digitação,
as trocas de letras das palavras, fato comuníssimo nas épocas de maior fadiga,
e as transformará, posteriormente, em textos cheios de “sacadas geniais”... É o
lado criativo do estresse.
O estressado não quer papo, não tem a
menor vontade de conversar; aliás, como já disse de início, as vozes humanas de
repente lhe soam estranhas, e é comum ele flagrar-se olhando para a boca do seu
interlocutor, como se assistisse à mímica de um playback.
O estressado sente-se febril por dentro e
gelado por fora, exatamente o contrário do que deve se sentir um sorvete, com
calda quente por cima. Talvez por isso, meio-termo é coisa que ele desconhece.
É drástico, sem meias-medidas. Com ele, é tudo ou nada. Ou 8 ou 80. Ou dá ou
desce. Nada de nem tanto ao mar nem tanto à terra. Está muito mais para
"não vem que não tem" do que para "conversando é que a gente se
entende". Este seu modo brusco pode confundir as pessoas, mas é melhor não
explicar-se na hora, porque pode acontecer da emenda ser pior do que o soneto –
Por fim, um dos sintomas mais
característicos do estressado é a divagação, a mente passeia, viaja, vai longe.
Às vezes, a desconcentração é tão grande, que de repente o indivíduo flagra-se
mexendo no mouse, movimentando-o na tela para baixo e para cima, de lá para cá,
perguntando-se o que estava fazendo ali, diante do computador. Calma, nada de
pânico: mesmo que demore um pouquinho, aos poucos a memória
Eu não sei se este minitutorial pode
ajudar alguém a se equilibrar em cima de uma prancha (ou melhor seria dizer
tábua de salvação?)
Leila Míccolis
Um comentário:
Merci d'avoir un blog interessant
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