quinta-feira, 2 de julho de 2009

POESIA COMENTADA

pequeno poema Rogel Samuel
pequeno poema se insinuando na minha solidão eu te amo apenas quando vale a pena não te ter à mão sei que aparecias na nudez suprema da imaginação pequenino tema posto que poema és contramão =-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=
Se alguém me perguntar o que a poesia é para mim, resumirei em uma palavra: contramão. Não no sentido dela ser sempre, obrigatoriamente, uma via contrária ao pensamento tradicional, mas sim uma via de acesso a paralelas reflexões. Mais no sentido, portanto, de con-frontar, ou até, de enfrentar. Ou seja: de dialogar. Este "pequeno poema" — pequeno apenas por ter doze versos — me toca muito, porque, em vez de tratar do "papel social do escritor", tema sempre muito interessante porém já bastante versado (e versejado) pelos nossos poetas, ele aborda, de modo aparentemente descomplicado, a complexidade do processo criativo, e, principalmente, a dolorosa constatação do poeta ao perceber que poemas só surgem em momentos de isolamento. Contradição paradoxal: para falar-se de amor é preciso se estar só (sem o outro, no momento da criação, pois quando se está junto, a escrita é sempre adiada): "Eu te amo apenas / quando vale a pena / não de ter à mão" — já que, neste caso, a poesia estaria na própria vida e não em palavras que a ela se referem. A tão endeusada criatividade aparece aqui como um substituto da realidade, imaginando-a, em vez de vivenciá-la (ficção x realidade, questão sempre tão fascinante quando desponta). É neste sentido que o poeta, sutilmente, manifesta sua raiva e até certa relutância em verbalizar a idéia, como se, através dela, modelasse a solidão dando-lhe forma. A palavra gera, produz, formata, cria e perigosamente materializa. Daí, a forma minimal, a fala, econômica e precisa, quase que apenas para registrar a angústia do momento. Uma lírica contida, filosófica, contemporânea, que, no extravasamento do eu, encontra material para reflexão mais ampla. E não há como deixar de refletir, lendo este belo poema, na inquieta contramão (contra a mão) do fazer poético, no eterno conflito do ente, entre o ser e o estar.

domingo, 14 de junho de 2009

POESIA COMENTADA

Quatro haicais de Lena Jesus Ponte

Igreja fechada.

Dorme um anjo a sono solto no pátio vazio.

***

Seis horas da tarde. O sino assusta o silêncio.

Revoada de anjos.

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Porta entreaberta Um vento assalta papéis

e rouba poesia.

***

Pousa a ave no mármore. Num leve tremor, a estátua sente o que é ter vida.

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Eu já a conhecia de nome, sabia que ela era Professora de Língua Portuguesa e de Literatura Brasileira. Porém quando Lena, aqui no I Festival de Poesia de Maricá, me ofereceu seus dois livros: Na Trança do tempo – haicais e Ávida Palavra, fiquei simplesmente encantada. Ao abrir o Ávida Palavra, ao acaso, o primeiro poema que eu li dela, “Plena”, lembrou-me a estrutura de um poema que escrevi e que pertence a uma série minha, inédita, “Lições de Poiesis”. Apresentei-o a ela e rimos bastante da nossa sinastria poética. Eu acho ambos os livros excelentes leituras. Porém resolvi divulgar quatro haicais que eu amo (os dois primeiros de Na trança do tempo, os dois últimos de Ávida Palavra), até para abordar um ângulo interessante: muita gente imagina que haicai, por ser um poema minimal, é fácil de fazer. É justo o contrário: em três versos de 5, 7 e 5 sílabas, os poetas lidam, ao mesmo tempo, com o kigo, a concisão, a fragmentação, o impacto, a originalidade no tratamento, além das metáforas precisas, exatas, para transmitirem o efeito visual, plástico, a própria vida em movimento. Porém nada disso é problema para a autora, que sabe dialogar muito habilmente com suas “cenas” poéticas, fazendo com que reflitamos mais sobre um cotidiano que nos passa desapercebido, e que a poesia graciosamente (em diversos sentidos) nos devolve.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Novo prêmio para o blog


Recebi de Márcia Sanchez Luz o selo “Vale a pena acompanhar este blog!”.
O selo violeta é um prêmio que representa, segundo os seus criadores,"as sensações que a cor violeta traz para a nossa mente". Ele é dado aos blogs que tem algumas das sensações da cor violeta, a saber: magia, encantamento, graciosidade, magnetismo e tudo aquilo que parece mágico.
Obrigada Márcia: com este prêmio mágico, fiquei literalmente encantada... Adorei, até pelos bons fluidos que dele emanam! Escolherei, posteriormente, com calma e critério, os sites que julgo merecedores deste selo.
Beijos,
Leila

sábado, 23 de maio de 2009

POESIA COMENTADA

A leitura do poema

Lêdo Ivo

Eis o modo certo de ler um poema: com um olho fechado e o outro aberto.

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Comecei a me interessar pela obra de Lêdo Ivo desde o primeiro poema que li dele: Conselho a um jovem poeta. Foi paixão à primeira vista, identificação plena. Aos poucos, aqui e ali, fui travando maior contato com os textos de Lêdo, até que, em 2005, Mauro Salles me presenteou com a obra completa do poeta, um livro que, apesar de ser contemporâneo, já é um clássico para mim, no sentido da definição de Italo Calvino, escritor cubano-italiano: “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”. Relendo-o – como sempre faço – eis que há poucos dias descobri este primor, que me fez parar e refletir sobre a delícia da linguagem poética, e o alcance do jogo de sentidos que ela é capaz de tecer. Ler um poema com um olho fechado (de sonho, divagação, meditação, reflexão) e o outro aberto (atento às entrelinhas, às estereotipias e aos discursos que ele traz consigo), é, certamente, um dos modos de analisar ao mesmo tempo emoção e técnica, sem privilegiar nenhum dos dois elementos: o olho fechado intui, interpreta, associa, o olho aberto perscruta, observa, questiona. No entanto, o poema apenas sugere tudo isto e aí é que reside toda a ironia sutil e ferina dele: quem o lê, literalmente, vai pensar que o título deveria ser substituído por "Exame de vista"... No entanto, até por este caminho aparentemente simplista e pouco elaborado, o ângulo crítico é capaz de surpreender, pois a poesia pode (e deve) ensejar um reexame em nossa visão, ou em nosso modo proposital de, tantas vezes, fecharmos o olho "melhor", e abrirmos o que vê menos – por comodismo, cansaço ou desânimo. Enquanto Conselho a um jovem poeta fala da emissão, da elaboração poética, A Leitura de um poema dirige-se à recepção, à repercussão do texto por parte do leitor. E ambos me fazem sorrir, não por serem poemas-piadas (aliás, nunca encontrei nenhuma anedota nos exemplos que ilustram esta classificação, estranhíssima portanto para mim), porém por serem tessituras que, de forma lúdica, costuram profundas questões vivenciais, teóricas e práticas.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

POESIA COMENTADA

Ser mãe... (soneto 052) - MÁRCIA SANCHEZ LUZ

Ser mãe é ser alguém que na alvorada

bendiz o brilho que anuncia o dia

trazendo a luz do sol em sintonia

com o burburinho de uma passarada.

Ser mãe é ser a doce madrugada

que põe um fim à mágoa doentia;

é ser também a força da magia

curando a febre que se faz calada.

Ser mãe é buscar sempre uma saída

para acalmar o coração inquieto

do filho que se fecha em seu afeto.

Ser mãe é estar atenta para a vida,

é ver além do amor que não deu certo,

fazendo de sua cria um ser liberto.

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Decidi começar esta nova seção com a "prata da casa", Márcia Sanchez Luz: a prova cabal de que a Internet só é fria para quem não sabe fazer amizades ou desconfia de tudo e de todos. Pessoalmente nos conhecemos nas comemorações em SP dos 12 anos de Blocos, mas já há muito nos escrevíamos; atualmente, considero-a uma amiga querida, sempre pronta a ajudar, a incentivar, a partilhar alegrias e agonias. Este soneto, recém-enviado, me encanta porque alia técnica à emoção. É precioso: mesmo mantendo um formato clássico, o texto é atual e universal: quem tiver filhos adolescentes saberá perfeitamente do que ela está falando. E, mesmo quem não os tenha, sentirá na pele a aflição das mães ante o silêncio machucado de seus filhotes, querendo o melhor para aqueles que, um dia, ela esperançosamente deu à luz.

sábado, 9 de maio de 2009

MUDANÇAS










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Resolvi mudar. Não propriamente de casa, mas de rumos... O blog está mais animado, com cores mais quentes, mais alegres, e espero, com isso, passar mais tempo nele, recebendo os amigos e interagindo com todos. Senti falta de um lugar mais convidativo e personalizado, para gostar de ficar mais. Então, pintei as paredes, coloquei gadgets novos e vou inaugurar uma sala (seção), em que escolherei um poema (ou prosa poética) de meu agrado, para divulgar e comentar aqui. Rearrumei o espaço para receber vocês com mais entusiasmo e prazer.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

RECÉM-LANÇAMENTO

Passagem de Calabar - uma análise do poema dramático de Lêdo Ivo Co-edição: Academia Brasileira de Letras e Topbooks com a inclusão na íntegra de "Calabar - um poema dramático", de Lêdo Ivo e entrevista com o poeta. Prefácio de Affonso Romano de Sant'Anna ISBN: 978-85-7475-158-0 192 páginas, R$ 45,00, já incluído o porte sob registro

Apesar de ser fundamentada na Dissertação de Mestrado da autora, em Ciência da Literatura/Teoria Literária (Letras/UFRJ), no 1º semestre de 2007, a obra é dirigida a um público maior, e não apenas à Comunidade Acadêmica. Nela, a autora tece comentários sobre o gênero épico patético e questiona a dificuldade que as sociedades tem de reconhecer seu lado épico na pós-modernidade, ao contrário do que acontece com o gênero dramático e com o lírico. No último capítulo, Míccolis também pesquisa as razões do poema dramático ser tão pouco encenado na contemporaneidade. Tendo utilizado para ilustrar sua teoria o poema dramático Calabar, de Lêdo Ivo, o volume traz também uma entrevista exclusiva com o poeta alagoano, tecendo considerações sobre o poema enfocado, poema este que é publicado ao final, na íntegra. Trata-se, pois, de livro muito abrangente, destinado não só aos professores, alunos e amantes das Letras, mas, também, aos interessados em Teatro, e aos admiradores da obra de um dos maiores poetas brasileiros vivos.

Pedidos para: blocos@blocosonline.com.br

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Diz-me em que Antologia estás e dir-te-ei quem és

Estou um pouco ausente do blog devido aos livros digitais de Blocos Online: A Noite Grega, de Eloah Margoni (já com 627 acessos) e o Panorama da Prosa Contemporânea Brasileira, ambos on line, com excelente repercussão. Sobre a Antologia de Prosa, o professor de Literatura, crítico e grande escritor Rogel Samuel, disse ser o "mais belo livro online" visto por ele. Ainda falta disponibilizar, porém, minha "menina-dos-olhos" a Saciedade dos Poetas Vivos (vol. 8). Eu adoro este projeto. Eu adoro poesia.

Quem vê um livro digital não sabe como são complexos e intrincados os "bastidores" dele. A pré-produção de cada antologia de Blocos é digna de um roteiro cinematográfico (um longa...), uma novela (haja fôlego), ou de um trabalho de garimpo. Porque até nisso somos diferentes: não queremos quantidade, mas qualidade, ou melhor, autores com propostas instigantes, reflexivas, que se destacam do imenso marasmo que soterra a poesia contemporânea. Nossas antologias digitais são um modo de ajudar Blocos a manter-se, mas não é por isso que “quem paga, entra”... A seleção é criteriosa e demoramos meses na escolha de cada um dos participantes, ao todo dezessete apenas, e dos nossos convidados especiais, que solidariamente respaldam nosso trabalho de resistência cultural. O resultado é sempre muito gratificante, porém até chegarmos lá a estrada é longa. Não poderia ser de outra forma, ou nosso “amor à literatura” seria demagogia, falsidade, farisaísmo. Cuidar de todos os detalhes, com extremo carinho, requer tempo, muita dedicação e até disponibilidade afetiva para lidar com cada um dos autores em seu próprio universo. Exercício de manufatura, sensibilidade, tato, território de delicadezas.

Em se tratando de poesia, muitas vezes poucos versos nos falam mais do seu autor – mesmo que seja uma obra de ficção – do que os muitos e-mails trocados, porque os poemas trazem o lado oculto de seu criador, irrevelado às vezes até para ele próprio, mas que transparece ao leitor atento e amoroso. Organizar uma antologia é um treino também de vida, precioso, para quem a coordena, uma demonstração de respeito a quem participa do livro, quase uma espécie de homenagem; é também um aprendizado de introspecção, uma responsabilidade grande, mas também uma enorme alegria quando vemos a obra concluída, e quando sentimos o orgulho dos autores o mesmo nosso em estarem incluídos nela. E quando alguém se incomoda com a falta de comentários por parte de outros poetas dos quais esperava alguma manifestação, sempre digo que não há motivo para alarme: aprendi em Poética que, assim como o vazio não é oco (tem eco), o silêncio não é a ausência de fala, e que é preciso aprendermos a escutá-lo, para entendermos o que ele sutilmente nos revela...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

ENTRANDO EM 2009

Aniversariar dia 1º de janeiro realmente é muito especial, não só pelos fogos, pela noite colorida da virada do ano, mas também porque é o Dia da Confraternização Universal. O difícil é comemorar esta data, porque em geral os excessos da véspera fazem-se sentir, os restaurantes não abrem, todos estão meio cansados e a tal da confraternização não acontece. Mesmo sabendo que se trata de um cansaço bom, de quem comemora a vida, a vinda de um tempo melhor, e acredita nisso, a cada ano ficava mais difícil reunir as pessoas, ainda mais morando em Maricá. Há alguns anos, porém, este problema acabou, desde que passei a comemorar virtualmente o meu aniversário pelo orkut. É super gostoso ver mais de 300 amigos nos desejando saúde, felicidade e nos vibrando positivamente. Depois de tanta manifestação de apreço, como não crer em um ano cheio de bênçãos? Já agradeci personalizadamente a um por um, mas quero aqui agradecer também coletivamente a todos os que me escreveram congratulando-me pela data, quer pelo orkut, pelo hi5 ou por e-mail. Esta é a verdadeira festa, o verdadeiro significado da data: a fraternidade, o congraçamento, o estar junto. Acho que vou fazer aniversário mais vezes no ano, estipular mais uns três ou quatro, só assim multiplico esta alegria. E quem disser que isto vai fazer eu ficar mais velha mais três ou quatro vezes por ano, responderei que, ao contrário, felic/idade rejuvenece...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

NATAIS E NASCIMENTOS

Sempre achei estranho esta troca de presentes no Natal. De há muito a festa cristã tornou-se uma festa pagã, quase dionisíaca — festança, comilanças, bebedeiras e exibições de poder do tipo: meu-presente-é-mais-caro-do-que-o-seu... Se o Natal é a festa de Jesus, que presente Lhe damos? Não mais refletimos o Natal, oramos o Natal, agradecemos a vi(n)da d'Ele. Menos ainda louvamos nosso Deus interior e seus cotidianos milagres, suas bênçãos e bem-aventuranças quase imperceptíveis aos nossos sentidos desatentos.
Que possamos, nesta véspera do dia 25 de dezembro, nos envolver mais com os significados deste nascimento para o mundo e para cada um de nós. E é neste clima medidativo e de festa íntima que desejo a todos um

VI Encontro Nacional do Mulherio das Letras - Rio de Janeiro

VI Encontro Nacional do Mulherio das Letras. Participação especial entre as Mulherageadas: Rui de Habeurim de 18 a 22 de Outubro...